A Pedra Filosofal
Os alquimistas tentavam produzir em laboratório a pedra filosofal (ou mercúrio dos filósofos, entre muitos outros nomes) a partir de matéria-prima mais grosseira. Com esta pedra seria possível obter a transmutação dos metais e o Elixir da Longa Vida, que é capaz de prolongar a vida indefinidamente. O trabalho relacionado com a pedra filosofal era chamado por eles de "A Grande Obra".
Considera-se que o trabalho de laboratório dos alquimistas medievais com os "metais" era, na verdade, uma metáfora para a verdadeira natureza espiritual da alquimia. Assim, a transformação dos metais em ouro pode ser interpretada como uma transformação de si próprio, de um estado inferior para um estado espiritual superior.
A pedra filosofal poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panacéia universal, que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina. Vários alquimistas são considerados precursores da moderna medicina, e entre eles destaca-se Paracelso.
A busca pela pedra filosofal é, em certo sentido, semelhante a busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Em seu romance "Parsifal", escrito entre os anos de 1210 e 1220, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos céus por seres celestiais e teria poderes inimagináveis. Também na cultura islâmica desempenha papel importante uma pedra, chamada Hajar el Aswad, que é guardada dentro de uma construção chamada de Kaaba, considerada sagrada, e que é cultuada em Meca.
O processo alquímico é o principal trabalho dos alquimistas (frequentemente chamado de "A Grande Obra"). Trata-se da manipulação dos metais, e da fabricação da pedra filosofal. As matérias-primas do processo alquímico são, entre outros, o orvalho, o sal, o mercúrio e o enxofre. De um modo geral, o processo alquímico é descrito de forma velada usando-se uma complicada simbologia que inclui símbolos astrológicos, animais e figuras enigmáticas.
O orvalho é utilizado para umedecer ou banhar a matéria-prima. O sal é o dissolvente universal. Os outros dois elementos, mercúrio e enxofre são as principais matérias-primas da alquimia. O enxofre é o princípio fixo, ativo, masculino, que representa as propriedades de combustão e corrosão dos metais. O mercúrio é o princípio volátil, passivo, feminino, inerte. Ambos, combinados, formam o que os alquimistas descrevem como o "coito do Rei e da Rainha".
O sal, também conhecido por arsênico, é o meio de ligação entre o mercúrio e o enxofre, muitas vezes associado à energia vital, que une corpo e alma.
A linguagem dos textos alquímicos com freqüência faz uso de imagens sexuais. E não é muito incomum que a ligação de elementos seja comparada a um "coito". Normalmente este casamento é associado à morte, e é representado, com freqüência, ocorrendo dentro de um sarcófago.
Enquanto a união de ambos os elementos é representada por um "casamento" ou "coito", o combate entre o enxofre e o mercúrio, entre o fixo e o volátil, entre o masculino e o feminino é comumente representado pela luta entre o dragão alado e o dragão áptero.
Também é muito freqüente o uso de símbolos da astrologia na linguagem alquímica. Associam-se os planetas da astrologia com os elementos da seguinte forma:
O Sol com o ouro
A Lua com a prata
Mercúrio com mercúrio
Vênus com o cobre
Marte com o ferro
Júpiter com estanho
Saturno com chumbo
Animais são usados pelos alquimistas para descrever o processo alquímico e os elementos envolvidos nele. Os antigos tinham como quatro os principais elementos, terra, água, ar e fogo, de forma que todos os outros poderiam ser obtidos pela combinação destes, em diferentes proporções. Normalmente, o unicórnio ou o veado é usado para representar o elemento terra, o peixe para representar a água, pássaros para o ar, e a salamandra o fogo. O sal é normalmente representado pelo leão verde. O corvo simboliza a fase de putrefação do processo (associada ao calor e ao fogo), que assume uma cor escura. Enquanto que um tonel de vinho representa a fermentação, fase muito freqüentemente citada pelos alquimistas no processo alquímico.
O trabalho alquímico está fundamentado em certos caminhos que devem ser seguidos. Na alquimia existem dois caminhos principais: a via úmida (pois trabalha com o orvalho) e a via seca. A via úmida é considerada um processo lento, mas que oferece menos riscos.
Talvez uma das mais interessantes idéias dos alquimistas seja a criação de vida humana a partir de materiais inanimados. Não se pode duvidar da influência que a tradição judaica teve neste aspecto, pois na cabala existe a possibilidade de dar vida a um ser artificial, o Golem. O conceito do homúnculo (do latim, homunculus, pequeno homem) parece ter sido usado pela primeira vez pelo alquimista Paracelsus para designar uma criatura que tinha cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, poderia ser criada por meio de sémen humano posto em uma retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria o embrião. Outro nome a um ser criado artificialmente é Quimera
A alquimia medieval acabou fundando, com seus estudos sobre os metais, as bases da química moderna. Diversas novas substâncias foram descobertas pelos alquimistas, como o arsênico.
Eles também deixaram como legado alguns procedimentos que usamos até hoje, como o famoso "banho-maria", devido a uma alquimista chamada Maria, a Judia. Ironia do destino, o desejo dos alquimistas de transmutar os metais tornou-se realidade nos nossos dias com a fissão e fusão nuclear.
A psicologia moderna também incorporou muito da simbologia da alquimia. Carl Jung reexaminou a simbologia alquímica procurando mostrar o significado oculto destes símbolos e sua importância como um caminho espiritual. Mas com certeza a maior influência da alquimia foi nas chamadas ciências ocultas. Não há ramo do ocultismo ocidental que não tenha recebido alguma idéia da alquimia, e que não a referencie.
Acima de tudo, a alquimia deixou uma mensagem poderosa de busca pela perfeição. Em um mundo tomado pelo culto ao dinheiro a à aparência exterior, em que pouco o homem busca a si próprio e ao seu íntimo, as vozes dos antigos alquimistas aparecem como um chamado para que o homem reencontre seu lado espiritual e superior.
Na Idade Média, surgiram escritos ocultistas correlacionados a alquimia, advindos de sociedades secretas que diziam ter conseguido a reprodução da Pedra Filosofal, bem como a confecção do Elixir da Longa Vida. Tais sociedades, muitas vezes grafavam em pranchas iconoclásticas e em textos simbólicos, os procedimentos descritivos das vias, dos processos e elementos utilizados para atingir a Magnum Opera, tentando dar um caminho gnósticos a possíveis buscadores, de forma a isolar os chamados sopradores. Estes registros se tornaram muitas vezes indescritíveis para o leigo, parecendo até mesmo para sérios estudiosos ocultistas, verdadeiros solilóquios indecifráveis, ou grandes embustes.
A maneira descritiva dos alquimistas medievais revelava um caminho solitário, fruto do desvelamento místico que o buscador opera na medida em que se aproxima do encontro com o Sagrado Anjo Guardião. Neste encontro, o simbolismo místico interior, flui por sua própria via, desvelando para a consciência objetiva, o trabalho alquímico subjetivo de retorno a fonte de vida universal. A este processo, Carl Gustave Jung chamou de individuação, termo psicológico que representa a transcendência da consciência para os planos do inconsciente coletivo, identificando-se com os arquétipos originais, que encontram no indivíduo um canal de desvelamento próprio na constituição do chamado Self.
Esta dialética entre consciência e inconsciência, foi registrada continuamente pelos alquimistas medievais e se tornava uma linguagem obscura para aqueles que não compreendiam os princípios básicos alquímicos. O Ser Humano se transformou no sagrado cadinho, contendo os 7 elementos alquímicos, que através das influências cósmicas, experimenta no viver e nas relações propiciadas por ela, as diversas formas de manifestação de seu Ego, transmutando-se na Pedra Filosofal que tudo sublima. Foi a este processo que Basile Valetim batizou de V.I.T.R.I.O.L.
A tradução ocultista do Vitriol é "Visitae Interiore Terrae et Retificando Invenias Ocultum Lapidem", isto é, Visita o Interior da Terra e Retificando-te, Encontrarás a Pedra Filosofal". A primeira vista tal expressão nos remeteria a um complicado processo alquímico, ou até mesmo a subjacente intenção de Valentim a representar uma substância alquímica... Não podemos descartar este fato!!! No entanto, nem mesmo a concepção vulgar que atribui uma acepção física ao Templo de Salomão é satisfatória, se não surgir de imediato uma analogia ao processo de integração da consciência do próprio indivíduo. Vitriol representa o incômodo mergulho nas profundezas do Ego, daquilo que é objetivado nas paixões através do desejo, e que simbolicamente nos remete a concepção mítica dos diabos e demônios que deveriam ficar excluídos no Inferno.
O contato com a "Terra" e a "Retificação do Humano" para "Encontrar a Pedra Filosofal", encerra uma sutiliza alquímica desapercebida pelos curiosos. Apenas encontramos a Pedra Filosofal, quando compreendemos, aceitamos e encaminhamos a "materialidade" que nos compõem, porque enquanto sujeitos, a auto-imagem que compomos do nosso Ser, é um conjunto do Enxofre (matéria), do Sal (Alma) e do Mercúrio (Espírito), e somente através da alquimia interior é que podemos juntar o partido, transformando a Pedra Filosofal.
Foi assim que יחאזח encontrou Lúcifer (o portador da Luz) e Satanás (o adversário), conseguindo emanar de si a personalidade fruto do seu processo pessoal de Alquimia Interior, fazendo-o atingir o seu verdadeiro estado de Ser. Mas, Jóshua ou Iéschuá, não foi o único iluminado a descobrir as propriedades da Alquimia Interior... Se buscarmos referências dos chamados avátares em nosso orbe, veremos que todos eles buscaram a sagrada Alquimia entre a Terra e o Céu que nós somos, ascendendo as velas no Templo Interior da Alma, para que pudesse ocorrer a ascese mística, o estado de plenitude que nos faz vibrar em Harmonia, Amor, Verdade e Justiça.
Cada um utilizou o laboratório que teve em suas mãos... Montanha, deserto, abismos ou mar... O abismo ou mar representando o mergulho profundo em sua própria alma, levando o indivíduo a Iniciação. A montanha representando a necessidade de enxergar além, propiciando ao indivíduo a Elevação. O deserto representando a expansão de domínios, remetendo-nos a Exaltação.
Observa-se que todos eles traziam em si a marca da Pedra Filosofal... Dizem que eles eram capazes de realizar milagres, dizem que conseguiam alterar as propriedades da matéria, dizem que conseguiam ludibriar a morte... Tudo isto é possível de ser verdade, mas nada disto é significativo quando falamos de Alquimia Interior. O sentido de identificação e a noção de reintegração destas consciências consigo mesmo e com o universo ao seu redor, é que parecia que dava mais sentido a elas de buscarem a sua integração com o Todo, fazendo-as atingirem estados de consciência que propiciavam a noção de Unidade. Isto é o que equivale ao ditame alquímico medieval: "Transmutati in lapis philosophorum".
Jung comentava em seu livro "Psicologia e Alquimia", que a Humanidade tem uma natural propensão aos estados alquímicos que lhe remetem a individuação. O inconsciente coletivo tende a se tornar cada vez mais convidativo a consciência, que nesta dialética permite que extrave nos sonhos, o simbolismo sagrado da sua jornada interior, condensação.
Quanto mais esta dialética se torna clara, mais criativo se torna este indivíduo, dando a sua marca pessoal em suas produções, pois permite extravasar de si o conjunto sintagmático subjetivo que o compõe e o define. Foi exatamente isto que os alquimistas medievais grafaram em seus trabalhos alquímicos como resultado da experimentação desta relação, tanto através da prática quanto da filosofia alquímica, da chamada Senda Mística ou Union Mistique.
A pedra filosofal é o resultado desta busca, fruto do casamento alquímico entre Marte e Vênus, conjunction, que resulta em Mercúrio, sublimatio. Não surge como por encanto, é o resultado de uma busca incessante, gradual, que deve ser orientada por um Mestre e vivenciada por um Aprendiz, mesmo que estes papéis sejam apenas aspectos da própria personalidade, que busca a psicosíntese.
O transeunte da Senda não é um iluminado, muito menos uma Pedra Filosofal, porque na conciliação das diferenças, ele deixa extravasar de si as diferenças, as confusões, os abismos mais profundos, as montanhas mais elevadas e os desertos mais isolados. Não raro nos deparamos com posturas díspares de um suposto iluminado... O senso comum opta pelo mais fácil, o julgamento, a estereotipação. O estudante ocultista vê nisto a oportunidade de compreender o seu próprio caminho, retirando através da reflexão o ensinamento necessário para dar o próximo passo em direção a sua verdadeira Vontade. A crítica por si só não é um instrumento valioso para um buscador, porque através dela surge o olhar enviesado pela perspectiva de uma crença, impedindo a verdade, que é pluridimensional, de surgir. A verdade não se apresenta como um recorte, ou como uma perspectiva, mas justamente pela integração destas.
Conclusão
O buscador reflete através de seus pensamentos, palavras e sentimentos, atitudes que revelam a sua relação consigo mesmo. Tais relações apontam para a Jornada Mística ou Alquimia Interior que foram registradas pelos alquimistas através das suas pranchas e de seus escritos alquímicos. É bem verdade que a prática alquímica continha um caminho prático e uma filosofia, tornando-se muitas vezes obscura a sua interpretação, e em função disto, estas concepções traduziam muito mais a percepção e a experiência de um alquimista ou um grupo de alquimistas, do que uma escola de pensamento alquímico.
O estudante contemporâneo das práticas alquímicas deve ter o cuidado ao olhar tais princípios, compreendendo que a alquimia traduzia também uma concepção especulativa de viver, além de uma prática manipulativa de elementos e uma forma operativa de processos. Ciente disto, é possível que o estudante alquimíco se transforme em um verdadeiro buscador e não um Soprador seduzido pelo Ouro dos Tolos.
Texto: FRC Aleph
Fonte: Ponte Oculta Blogspot
Os alquimistas tentavam produzir em laboratório a pedra filosofal (ou mercúrio dos filósofos, entre muitos outros nomes) a partir de matéria-prima mais grosseira. Com esta pedra seria possível obter a transmutação dos metais e o Elixir da Longa Vida, que é capaz de prolongar a vida indefinidamente. O trabalho relacionado com a pedra filosofal era chamado por eles de "A Grande Obra".
Considera-se que o trabalho de laboratório dos alquimistas medievais com os "metais" era, na verdade, uma metáfora para a verdadeira natureza espiritual da alquimia. Assim, a transformação dos metais em ouro pode ser interpretada como uma transformação de si próprio, de um estado inferior para um estado espiritual superior.
A pedra filosofal poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panacéia universal, que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina. Vários alquimistas são considerados precursores da moderna medicina, e entre eles destaca-se Paracelso.
A busca pela pedra filosofal é, em certo sentido, semelhante a busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Em seu romance "Parsifal", escrito entre os anos de 1210 e 1220, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos céus por seres celestiais e teria poderes inimagináveis. Também na cultura islâmica desempenha papel importante uma pedra, chamada Hajar el Aswad, que é guardada dentro de uma construção chamada de Kaaba, considerada sagrada, e que é cultuada em Meca.
O processo alquímico é o principal trabalho dos alquimistas (frequentemente chamado de "A Grande Obra"). Trata-se da manipulação dos metais, e da fabricação da pedra filosofal. As matérias-primas do processo alquímico são, entre outros, o orvalho, o sal, o mercúrio e o enxofre. De um modo geral, o processo alquímico é descrito de forma velada usando-se uma complicada simbologia que inclui símbolos astrológicos, animais e figuras enigmáticas.
O orvalho é utilizado para umedecer ou banhar a matéria-prima. O sal é o dissolvente universal. Os outros dois elementos, mercúrio e enxofre são as principais matérias-primas da alquimia. O enxofre é o princípio fixo, ativo, masculino, que representa as propriedades de combustão e corrosão dos metais. O mercúrio é o princípio volátil, passivo, feminino, inerte. Ambos, combinados, formam o que os alquimistas descrevem como o "coito do Rei e da Rainha".
O sal, também conhecido por arsênico, é o meio de ligação entre o mercúrio e o enxofre, muitas vezes associado à energia vital, que une corpo e alma.
A linguagem dos textos alquímicos com freqüência faz uso de imagens sexuais. E não é muito incomum que a ligação de elementos seja comparada a um "coito". Normalmente este casamento é associado à morte, e é representado, com freqüência, ocorrendo dentro de um sarcófago.
Enquanto a união de ambos os elementos é representada por um "casamento" ou "coito", o combate entre o enxofre e o mercúrio, entre o fixo e o volátil, entre o masculino e o feminino é comumente representado pela luta entre o dragão alado e o dragão áptero.
Também é muito freqüente o uso de símbolos da astrologia na linguagem alquímica. Associam-se os planetas da astrologia com os elementos da seguinte forma:
O Sol com o ouro
A Lua com a prata
Mercúrio com mercúrio
Vênus com o cobre
Marte com o ferro
Júpiter com estanho
Saturno com chumbo
Animais são usados pelos alquimistas para descrever o processo alquímico e os elementos envolvidos nele. Os antigos tinham como quatro os principais elementos, terra, água, ar e fogo, de forma que todos os outros poderiam ser obtidos pela combinação destes, em diferentes proporções. Normalmente, o unicórnio ou o veado é usado para representar o elemento terra, o peixe para representar a água, pássaros para o ar, e a salamandra o fogo. O sal é normalmente representado pelo leão verde. O corvo simboliza a fase de putrefação do processo (associada ao calor e ao fogo), que assume uma cor escura. Enquanto que um tonel de vinho representa a fermentação, fase muito freqüentemente citada pelos alquimistas no processo alquímico.
O trabalho alquímico está fundamentado em certos caminhos que devem ser seguidos. Na alquimia existem dois caminhos principais: a via úmida (pois trabalha com o orvalho) e a via seca. A via úmida é considerada um processo lento, mas que oferece menos riscos.
Talvez uma das mais interessantes idéias dos alquimistas seja a criação de vida humana a partir de materiais inanimados. Não se pode duvidar da influência que a tradição judaica teve neste aspecto, pois na cabala existe a possibilidade de dar vida a um ser artificial, o Golem. O conceito do homúnculo (do latim, homunculus, pequeno homem) parece ter sido usado pela primeira vez pelo alquimista Paracelsus para designar uma criatura que tinha cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, poderia ser criada por meio de sémen humano posto em uma retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria o embrião. Outro nome a um ser criado artificialmente é Quimera
A alquimia medieval acabou fundando, com seus estudos sobre os metais, as bases da química moderna. Diversas novas substâncias foram descobertas pelos alquimistas, como o arsênico.
Eles também deixaram como legado alguns procedimentos que usamos até hoje, como o famoso "banho-maria", devido a uma alquimista chamada Maria, a Judia. Ironia do destino, o desejo dos alquimistas de transmutar os metais tornou-se realidade nos nossos dias com a fissão e fusão nuclear.
A psicologia moderna também incorporou muito da simbologia da alquimia. Carl Jung reexaminou a simbologia alquímica procurando mostrar o significado oculto destes símbolos e sua importância como um caminho espiritual. Mas com certeza a maior influência da alquimia foi nas chamadas ciências ocultas. Não há ramo do ocultismo ocidental que não tenha recebido alguma idéia da alquimia, e que não a referencie.
Acima de tudo, a alquimia deixou uma mensagem poderosa de busca pela perfeição. Em um mundo tomado pelo culto ao dinheiro a à aparência exterior, em que pouco o homem busca a si próprio e ao seu íntimo, as vozes dos antigos alquimistas aparecem como um chamado para que o homem reencontre seu lado espiritual e superior.
Na Idade Média, surgiram escritos ocultistas correlacionados a alquimia, advindos de sociedades secretas que diziam ter conseguido a reprodução da Pedra Filosofal, bem como a confecção do Elixir da Longa Vida. Tais sociedades, muitas vezes grafavam em pranchas iconoclásticas e em textos simbólicos, os procedimentos descritivos das vias, dos processos e elementos utilizados para atingir a Magnum Opera, tentando dar um caminho gnósticos a possíveis buscadores, de forma a isolar os chamados sopradores. Estes registros se tornaram muitas vezes indescritíveis para o leigo, parecendo até mesmo para sérios estudiosos ocultistas, verdadeiros solilóquios indecifráveis, ou grandes embustes.
A maneira descritiva dos alquimistas medievais revelava um caminho solitário, fruto do desvelamento místico que o buscador opera na medida em que se aproxima do encontro com o Sagrado Anjo Guardião. Neste encontro, o simbolismo místico interior, flui por sua própria via, desvelando para a consciência objetiva, o trabalho alquímico subjetivo de retorno a fonte de vida universal. A este processo, Carl Gustave Jung chamou de individuação, termo psicológico que representa a transcendência da consciência para os planos do inconsciente coletivo, identificando-se com os arquétipos originais, que encontram no indivíduo um canal de desvelamento próprio na constituição do chamado Self.
Esta dialética entre consciência e inconsciência, foi registrada continuamente pelos alquimistas medievais e se tornava uma linguagem obscura para aqueles que não compreendiam os princípios básicos alquímicos. O Ser Humano se transformou no sagrado cadinho, contendo os 7 elementos alquímicos, que através das influências cósmicas, experimenta no viver e nas relações propiciadas por ela, as diversas formas de manifestação de seu Ego, transmutando-se na Pedra Filosofal que tudo sublima. Foi a este processo que Basile Valetim batizou de V.I.T.R.I.O.L.
A tradução ocultista do Vitriol é "Visitae Interiore Terrae et Retificando Invenias Ocultum Lapidem", isto é, Visita o Interior da Terra e Retificando-te, Encontrarás a Pedra Filosofal". A primeira vista tal expressão nos remeteria a um complicado processo alquímico, ou até mesmo a subjacente intenção de Valentim a representar uma substância alquímica... Não podemos descartar este fato!!! No entanto, nem mesmo a concepção vulgar que atribui uma acepção física ao Templo de Salomão é satisfatória, se não surgir de imediato uma analogia ao processo de integração da consciência do próprio indivíduo. Vitriol representa o incômodo mergulho nas profundezas do Ego, daquilo que é objetivado nas paixões através do desejo, e que simbolicamente nos remete a concepção mítica dos diabos e demônios que deveriam ficar excluídos no Inferno.
O contato com a "Terra" e a "Retificação do Humano" para "Encontrar a Pedra Filosofal", encerra uma sutiliza alquímica desapercebida pelos curiosos. Apenas encontramos a Pedra Filosofal, quando compreendemos, aceitamos e encaminhamos a "materialidade" que nos compõem, porque enquanto sujeitos, a auto-imagem que compomos do nosso Ser, é um conjunto do Enxofre (matéria), do Sal (Alma) e do Mercúrio (Espírito), e somente através da alquimia interior é que podemos juntar o partido, transformando a Pedra Filosofal.
Foi assim que יחאזח encontrou Lúcifer (o portador da Luz) e Satanás (o adversário), conseguindo emanar de si a personalidade fruto do seu processo pessoal de Alquimia Interior, fazendo-o atingir o seu verdadeiro estado de Ser. Mas, Jóshua ou Iéschuá, não foi o único iluminado a descobrir as propriedades da Alquimia Interior... Se buscarmos referências dos chamados avátares em nosso orbe, veremos que todos eles buscaram a sagrada Alquimia entre a Terra e o Céu que nós somos, ascendendo as velas no Templo Interior da Alma, para que pudesse ocorrer a ascese mística, o estado de plenitude que nos faz vibrar em Harmonia, Amor, Verdade e Justiça.
Cada um utilizou o laboratório que teve em suas mãos... Montanha, deserto, abismos ou mar... O abismo ou mar representando o mergulho profundo em sua própria alma, levando o indivíduo a Iniciação. A montanha representando a necessidade de enxergar além, propiciando ao indivíduo a Elevação. O deserto representando a expansão de domínios, remetendo-nos a Exaltação.
Observa-se que todos eles traziam em si a marca da Pedra Filosofal... Dizem que eles eram capazes de realizar milagres, dizem que conseguiam alterar as propriedades da matéria, dizem que conseguiam ludibriar a morte... Tudo isto é possível de ser verdade, mas nada disto é significativo quando falamos de Alquimia Interior. O sentido de identificação e a noção de reintegração destas consciências consigo mesmo e com o universo ao seu redor, é que parecia que dava mais sentido a elas de buscarem a sua integração com o Todo, fazendo-as atingirem estados de consciência que propiciavam a noção de Unidade. Isto é o que equivale ao ditame alquímico medieval: "Transmutati in lapis philosophorum".
Jung comentava em seu livro "Psicologia e Alquimia", que a Humanidade tem uma natural propensão aos estados alquímicos que lhe remetem a individuação. O inconsciente coletivo tende a se tornar cada vez mais convidativo a consciência, que nesta dialética permite que extrave nos sonhos, o simbolismo sagrado da sua jornada interior, condensação.
Quanto mais esta dialética se torna clara, mais criativo se torna este indivíduo, dando a sua marca pessoal em suas produções, pois permite extravasar de si o conjunto sintagmático subjetivo que o compõe e o define. Foi exatamente isto que os alquimistas medievais grafaram em seus trabalhos alquímicos como resultado da experimentação desta relação, tanto através da prática quanto da filosofia alquímica, da chamada Senda Mística ou Union Mistique.
A pedra filosofal é o resultado desta busca, fruto do casamento alquímico entre Marte e Vênus, conjunction, que resulta em Mercúrio, sublimatio. Não surge como por encanto, é o resultado de uma busca incessante, gradual, que deve ser orientada por um Mestre e vivenciada por um Aprendiz, mesmo que estes papéis sejam apenas aspectos da própria personalidade, que busca a psicosíntese.
O transeunte da Senda não é um iluminado, muito menos uma Pedra Filosofal, porque na conciliação das diferenças, ele deixa extravasar de si as diferenças, as confusões, os abismos mais profundos, as montanhas mais elevadas e os desertos mais isolados. Não raro nos deparamos com posturas díspares de um suposto iluminado... O senso comum opta pelo mais fácil, o julgamento, a estereotipação. O estudante ocultista vê nisto a oportunidade de compreender o seu próprio caminho, retirando através da reflexão o ensinamento necessário para dar o próximo passo em direção a sua verdadeira Vontade. A crítica por si só não é um instrumento valioso para um buscador, porque através dela surge o olhar enviesado pela perspectiva de uma crença, impedindo a verdade, que é pluridimensional, de surgir. A verdade não se apresenta como um recorte, ou como uma perspectiva, mas justamente pela integração destas.
Conclusão
O buscador reflete através de seus pensamentos, palavras e sentimentos, atitudes que revelam a sua relação consigo mesmo. Tais relações apontam para a Jornada Mística ou Alquimia Interior que foram registradas pelos alquimistas através das suas pranchas e de seus escritos alquímicos. É bem verdade que a prática alquímica continha um caminho prático e uma filosofia, tornando-se muitas vezes obscura a sua interpretação, e em função disto, estas concepções traduziam muito mais a percepção e a experiência de um alquimista ou um grupo de alquimistas, do que uma escola de pensamento alquímico.
O estudante contemporâneo das práticas alquímicas deve ter o cuidado ao olhar tais princípios, compreendendo que a alquimia traduzia também uma concepção especulativa de viver, além de uma prática manipulativa de elementos e uma forma operativa de processos. Ciente disto, é possível que o estudante alquimíco se transforme em um verdadeiro buscador e não um Soprador seduzido pelo Ouro dos Tolos.
Texto: FRC Aleph
Fonte: Ponte Oculta Blogspot