Vou partilhar convosco um pequeno raciocínio surgido num outro dia.
Sabemos que cada Raio pode ser definido por um sentimento, e que um sentimento pode ter infinitas definições diferenciadas, mas nenhuma que o consiga definir por completo. É quase impossível definir de um modo absoluto tudo aquilo que é a Fé, ou o Amor, ou a Esperança, ou a Certeza, ou a Paz, ou a Sabedoria, ou a Alegria, ainda que se possa "explicar" parcialmente um ou outro conceito ligado a cada um destes sentimentos.
Podemos dizer que Amor é carinho, caridade, amizade... Que Fé é confiança, perseverança... Mas dificilmente qualquer uma destas palavras ou até o somatório de todas resumirá estes sentimentos.
No entanto, o que vim discutir brevemente é precisamente o oposto: aquilo que cada um destes sentimentos NÃO É.
No decorrer da história da humanidade (de um modo macro) e das nossas vidas (de um modo micro), sempre acabamos por absorver ou criar conceitos pessoais de inúmeras coisas, sem que isso implique que sempre criemos ou absorvamos algo de facto correto e verdadeiro. Deste modo, convém parar e meditar um pouco sobre todos os conceitos e preconceitos que temos na vida e revermos os mesmos de tempos a tempos - afinal se evoluímos é natural que os nossos modos de ver as coisas se renovem e transformem.
Deste modo...
Fé NÃO É cegueira
Muitos de nós acreditam que questionar de modo saudável as suas crenças é uma afronta à Fé, a Deus, às Forças Maiores.
No entanto, nenhuma Fé é verdadeira e firme se esse questionamento saudável não existir.
Fé é Verdade. E ninguém é dono da verdade. A Verdade Absoluta neste momento é pertença apenas de Deus, só Ele vê o "puzzle" completo. Deste modo, a Fé, para ser firme e verdadeira deve estar aberta à evolução das nossas crenças, sentimentos e buscas. Sabendo que a Verdade é algo que se procura dia após dia, não faz sentido que a nossa Fé não se renove. Não me refiro apenas aos conceitos e crenças, mas ao próprio sentimento. O modo como vivenciamos a nossa Fé, como praticamos a nossa comunhão com os Mistérios de Deus, deve ser renovado.
Permanecer fixo e imutável, cego para outras realidades ou para a própria necessidade de questionar se a nossa vivência está a ser adequada - por haver um conceito estrito de como a Fé deve ser vivida - é viver na cegueira.
Então questionem o que vos é dito. Vejam se ressoa nos vossos corações, sigam onde sentirem que a Fé, a Verdade vossa e o Amor vos conduzem. Antes de mais nada questionem a vocês próprios e não tenham medo de adotar novas posturas e procurar novas formas de viver a vossa comunhão com Deus se os vossos corações pedirem. Não se fixem em crenças que instituíram ou que herdaram de alguém ou alguma coisa ficando cegos ao mundo lá fora, nem cheguem a um ponto em que o vosso coração vos peça algo, mas teimem cegamente em dizer "ah, mas isso não pode ser..."
Amor NÃO É obrigação nem sacrifício
Muitos de nós interiorizamos a vivência do "bonzinho" e do "coitadinho" e vivemos fazendo tudo pela aceitação do outro, ou, por outro lado, acreditamos que manifestar amor, carinho e caridade é algo que implica que o outro dê tudo, faça tudo, ajude em tudo, até para além das suas possibilidades quando o exigimos - e se não cumprir a pessoa então não é "boa" nem "caridosa".
Gente, amar não é ser otário! Nem é entrar num conluio com a moleza dos outros e criar dependências.
Amor não é carência nem dependência.
Estar carente não significa que você ama quem lhe der carinho, simplesmente indica que a sua necessidade desse carinho é tal que você fica dependente de qualquer pessoa que o dê, podendo até ficar obcecado pela "fonte" desse carinho.
Do mesmo modo, amar é trocar num fluxo natural, não forçado. Achar que você vai dar algo e vai ter de volta algo em retorno pode até ser real, mas isso não implica que esse retorno vai acontecer do jeito que você quer. Então não manipule, não crie ilusões nem expectativas. Muitas vezes você receberá um justo retorno do bem que faz por mãos muito diferentes daquelas a que um dia ajudou - aceite isso e não cobre.
Doar-se por Amor não é um ato de obrigação, mas de vontade própria, de carinho.
Doar-se não é um sacrifício - se você está sacrificando parte de você para que outro esteja bem, você está a mutilar-se. Se você der de coração uma parte de você, você está a multiplicar-se. Entendeu a diferença?
Esperança NÃO É ficar sentado
Talvez pela semelhança das palavras entre "esperança" e "esperar" as pessoas tenham começado a confundir as coisas.
Talvez por algumas rezas dizerem "espero em Deus Todo Poderoso" as coisas sejam mal entendidas.
Esperança é um sentimento muito próprio, nalguns casos semelhante à Fé, mas que na realidade está muito mais de mãos dadas com a acção do que o contrário!
"Espero em Deus" significa ter Fé, esperar que Deus ajude na hora certa. Mas meus amigos, a hora certa nós é que a fazemos, na medida que Deus dará a "oportunidade" e você dará a "preparação" para usufruir dela. Não adianta "esperar" dádivas e não as saber utilizar.
Uma frase bíblica que muito se enquadra aqui é esta: "Eu te ajudarei com o suor do teu rosto". Então Deus promete sempre estar lá para ajudar os seus filhos, dar oportunidades e caminhar com eles, mas isso não implica fazer o nosso trabalho e nos levar ao colo...
Esperança é não ficar parado, sentado, esperando cair do Céu! Quem tem Esperança, corre atrás e confia que Deus sabe o que faz e que portas abre para si enquanto caminha na jornada.
Vá atrás do que quer, batalhe, e espere que Deus faça o resto, segundo o seu Plano Maior.
Esperança é perseverança para seguir em frente e paciência para esperar a oportunidade certa surgir.
Certeza NÃO É fanatismo
Semelhante ao que se fala com a Fé, ter certeza de algo não implica ser cego ao demais e ficar fixo na mesma postura e opinião.
Muita gente confunde firmeza com fanatismo. Certeza implica firmeza, mas nunca fanatismo...
Firmeza permite concentrar num propósito e até em si próprio e seguir em frente.
Firmeza permite não duvidar do que se sente no seu íntimo, não se corroendo por dúvidas. Mas isso não implica que não se questione.
Todo o bom guerreiro se questiona, estabelece a sua estratégia, usa a sua lógica e inteligência.
Mas todo o bom guerreiro sabe que se não tiver "jogo de cintura" para mudar de rumo quando assim for necessário, morre no campo de batalha.
Desse modo, seja firme nas suas convicções e sentimentos elevados, examine essas convicções do mesmo modo que examina a suas crenças periodicamente, de modo a sempre aprender e evoluir, mas não bambeie se dispersando constantemente - seja firme e saiba por onde segue. Mas saiba que o seu caminho não tem de ser o do outro, nem o do outro tem de ser o seu, então não tente ser senhor absoluto da verdade nem fanático do seu ponto de vista - mas seja firme nos seus sentimentos.
Paz NÃO É passividade
Estar em Paz implica um estado interior de serenidade, calma. Mas não significa que o exterior esteja calmo ou que se tenha uma atitude passiva perante a vida.
Com o tempo, e com as nossas vidas agitadas, criámos um cenário idílico de palmeiras e praias e férias em sossego como um cenário de "paz". De algum modo, venderam-nos que paz é descanso.
Não necessariamente. Paz é um estado sobretudo interior e pode não ter nada a ver com o que se passa à nossa volta. Paz é ter calma interior, que sente e está alerta mas que nem por isso se perturba.
Paz é ser capaz de enfrentar a tormenta sem perder o centro, nem a Fé. Paz é entrar na batalha com a certeza de que mesmo que no fim o resultado seja o desencarne, Deus estará por nós e nem nessa hora estaremos desamparados.
Paz não é um estado de descanso ou paragem e não implica que estar em paz signifique estar inativo, passivo na vida.
Paz não é também, por ter esse centramento e calma, aceitar tudo o que nos ponham à frente. Você pode, com toda a calma e centramento, com toda a sua paz interior simplesmente dizer: "isto não me convém" e mudar o seu rumo, a sua postura, a sua vida, buscar novos conhecimentos, novas amizades, um novo emprego...
"Ah, mas a mudança é sempre um tumulto, nunca é pacífica!" Errado! O processo exterior pode ser bem tumultuado e interiormente, a mudança pode ser difícil, mas ela acontece com maior ou menor dificuldade consoante o nosso grau de resistência e de aceitação perante os factos que impulsionam essa mudança. Se você realmente consegue estar em Paz no seu coração essa mudança será bem mais fácil e menos sofrida, saberá contornar as dificuldades naturais muito melhor, pois existirá em você um filtro que permitirá que o que é bom se cimente e o que é tumulto esteja "do lado de fora". Lógico que Paz absoluta é bem difícil de conseguir, mas convenhamos que qualquer sentimento absoluto (positivo e negativo) estão ainda um pouco longe das nossas realidades e vivências, ainda que a grande maioria aceda e sustente melhor aos negativos do que aos positivos...
Sabedoria NÃO É o fim da viagem
Assunto complicado, mas que vale a pena parar para pensar...
Sabedoria é conhecimento aplicado, de experiências feito, correto?
Pois...
Então perceberão de seguida aonde quero chegar.
Quantos de vós conhecem ou até passaram por uma fase em que tiveram (desculpe a sinceridade) a arrogância de achar que já sabiam tudo o que havia a saber num determinado assunto?
Quantos de vocês não ouviram falar de alguém (ou até poderá ser você) que se diz "um médium completamente desenvolvido"?
Em suma, quantos de vocês conhecem alguém que achou que já tinha atingido a sabedoria, que era um mestre e um sábio, que estava no cume dos cumes e não tinha mais nada a aprender?
Nunca, e repito NUNCA, somos tão sábios ao ponto de saber tudo o que há para saber num tópico que seja, quanto mais na VIDA!
Então adquirir sabedoria é um caminho para a vida inteira, no corpo e no espírito, encarnado e desencarnado...
Claro que alguns de nós certamente conhecerão (ou até serão) mais sábios do que muitos, mas isso nunca implica que se chegou ao fim de um caminho, de uma viagem de aprendizado... E se você atingiu um pico em algo, parabéns! Agora desça que na descida também se aprende e se conhecem outros caminhos e siga para o próximo cume...
Não se perca em arrogância - afinal a verdadeira sabedoria é humilde, pois sabe que muito lhe falta para estar "completa" - e não tente ser o guru de ninguém que não você próprio. Seja seu próprio mestre, aprenda com os seus erros e siga caminhando. A viagem é eterna!
Alegria NÃO É felicidade
Este é mais difícil de explicar, por isso vou tentar diferenciar as coisas bem desde início...
Alegria é um sentimento, felicidade é um estado. Eu posso sentir alegria, estar alegre, ser alegre. Mas esses sentimentos de alegria são sentidos quando eu SOU alegre, algo que vem de dentro para fora.
Felicidade é algo diferente. Ainda que se use como sinónimo de alegria, entendamos de modo diferente neste momento para que eu me possa explicar de um modo perceptível. Eu sou feliz mediante o somatório das minhas alegrias, momentos alegres. Então se eu SOU alegre eu consigo SER feliz. Mas se eu apenas ESTOU alegre, há momentos em que não estou, e como tal eu serei ou não feliz mediante o somatório desses momentos de alegria serem superiores aos da sua falta ou de esses momentos de alegria serem de tal modo satisfatórios que superem os momentos em que a alegria não se faz presente.
O que quero dizer é que ser alegre é possível. Ser feliz é difícil. Mas se você consegue ativar a Alegria em sua vida, você conseguirá ser feliz.
Você pode ter momentos em que por diversos motivos exteriores a sua vida passa provações, e as provações sentem-se na pele, doem. Também ensinam.
A felicidade só aparece se você consegue manter a Alegria interior intocada.
Ser Alegre não implica que a sua vida seja sempre um mar de rosas, ou que de algum modo você consiga não ter dificuldades ainda que se sinta bem. Mas implica que a sua mais pura essência, a sua criança interior, está de boa saúde e o mantém vitalizado e alegre e como tal com a possibilidade de ser feliz (quando avaliadas as coisas de um modo geral), mesmo no meio da tormenta.
O truque, neste caso está em não exigir ou forçar a felicidade. Apenas ser feliz de coração, tentar manter esse estado o mais firme possível sendo Alegre. Se aceitarmos que a felicidade não é algo constante, podemos ter a serenidade de aceitar as nossas dificuldades e nessa serenidade ser Alegres até mesmo quando os momentos são tristes.
A verdadeira Alegria vem de um estado muito puro de serenidade, aceitação e Amor.
Não é fácil manter este sentimento constante para a maioria de nós, por isso começamos a tratar a Alegria como um estado, como a própria felicidade. É nesse ponto que com frequência nos frustramos e tornamos de facto infelizes!
Felicidade é algo que perguntaremos a nós próprios de tempos a tempos, até como forma de balanço de uma jornada: "fui feliz?", "serei mais ou menos feliz com esta opção", "tenho tido uma carreira/vida/família feliz?", porque muitas vezes a provação vem para nos mostrar que o caminho deve ser adaptado ou mudado. Então se a felicidade anda longe muito tempo, devemos parar e pensar.
Se a Alegria não está presente, devemos parar nesse instante e fazer uma pergunta mais importante: "estou a colocar nesta ação o meu coração ou estou a fazer por fazer, ou por qualquer outro motivo?". É que um caminho sem alma, sem coração, sem Amor, não vale a pena pois nunca gerará Alegria, nunca conseguirá plantar bons frutos, nunca criará prosperidade.
É nosso dever tentar sempre SER Alegres e fazer o nosso melhor por ser felizes e espalhar a felicidade aos outros.
Saudações a todos!
(I´m back!)