Introdução

Historicamente, associa-se a Kabbalah (ou Cabalá) à tradição judaica, porém há aqueles que afirmam que ela possui raízes muito mais antigas que vão até os egípcios e os sumérios. A palavra Kabbalah, em hebraico, tem como significado "receber". Isto remonta à tradição de Moisés, onde o conhecimento era transmitido via oral e era restrito a um número pequeno de indivíduos. Outros crêem que a palavra Kabbalah na verdade se originou de uma palavra com semelhante vocalização, porém de origem assírio-egípcia, que significava literalmente Doutrina Oculta ou Tradição Oculta.

A Kabbalah é uma ciência emanatória pois defende que toda a Criação emana de Deus. Seus ensinamentos visam uma melhor compreensão sobre Deus, o Universo e o próprio Homem. Nesses estudos se incluem as leis e a formação dos diversos mundos, descritas como parte do processo emanatório que é simbolicamente expresso no símbolo cabalístico da Árvore da Vida. Este diagrama é um dos pontos centrais da Kabbalah.

De maneira geral, a Kabbalah está dividida em quatro categorias:

1) Kabbalah Prática, que trata da magia cerimonial;
2) Kabbalah Dogmática, que compreende a literatura e o sistema;
3) Kabbalah Literal, que trata das letras e dos seus valores numéricos;
4) Kabbalah Oral, que se ocupa com a atribuição dos símbolos às esferas da Árvore da Vida.

A Árvore da Vida é um símbolo cabalístico utilizado para organizar e categorizar vários conceitos místicos, em especial na Magia Ocidental. Sua aplicação é universal, uma vez que é a estrutura comum a todas as coisas que existem. É utilizada para explicar as divisões do Universo (macrocosmo) e do homem (microcosmo).

Em seu nível mais simples é composta por dez esferas, as Sephiroth. Cada uma (singular Sephirah) é uma emanação divina. É importante destacar que uma Sephirah não pode existir sem a outra. A Árvore possui dentro de si 22 caminhos entre as Sephiroth que mantém analogias e são representados por planetas, elementos e signos do Zodíaco. Cada caminho corresponde também a uma letra do alfabeto hebraico e um Arcano Maior do Tarot.

Eis o diagrama da Árvore da Vida:


Cada esfera da Árvore da Vida corresponde à uma Sephirah. São elas, na ordem: Kether, Chokmah, Binah, Chesed, Geburah, Tiphareth, Netzach, Hod, Yesod e Malkuth. Desde a primeira (Kether) até a última (Malkuth), a Árvore da Vida, entre outras coisas, ilustra esquematicamente o processo de emanação da Criação desde sua forma mais abstrata, potencial (representada pela Sephirah de Kether) até sua concretização no mundo físico, o plano terrestre (representado pela Sephirah de Malkuth). Dentro do contexto desse processo, é possível dividir a Árvore da Vida em quatro partes, os chamados quatro mundos cabalísticos que se interconectam em camadas cada vez mais densas:

- Atziluth (mundo arquetípico): Kether, Chokmah, Binah.
- Briah (mundo criativo): Chesed, Geburah, Tiphareth.
- Yetzirah (mundo formativo): Netzach, Hod, Yesod.
- Assiah (mundo material): Malkuth.

A Árvore da Vida também pode ser dividida nos chamados três pilares:

- Pilar da Severidade: esquerdo (Pilar Negro, Boaz, feminino, polaridade negativa). Nele estão as Sephiroth de Binah, Geburah e Hod.
- Pilar do Equilíbrio: centro (Pilar do Meio, neutro; suas Sephiroth são níveis de consciência). Nele estão as Sephiroth de Kether, Tiphareth, Yesod e Malkuth.
- Pilar da Misericórdia: direito (Pilar Branco, Joachin, masculino, polaridade positiva). Nele estão as Sephiroth de Chokmah, Chesed e Netzach.

Segundo a Kabbalah, a alma é composta por três partes distintas:

- Nephesh: parte inferior ou animal da alma; inconsciente inferior. Possui os instintos primais, os impulsos básicos (sexual, gregário, de sobrevivência e religioso) e a vitalidade animal (cuja perda é uma das causas das doenças psicossomáticas). Constitui o corpo etérico, a matriz do corpo físico, bem como a aura. Possui grande quantidade de memórias. Corresponde à Sephirah Malkuth.

- Ruach: parte mediana da alma ou espírito; mente consciente. Fonte do raciocínio, contém as virtudes morais e a capacidade de distinguir o bem e o mal. Origem de todo trabalho mágico, onde ocorre a escolha do resultado e dos meios para obtê-lo via análises objetivas. As escolhas tomadas são então transformadas em símbolos para a compreensão de Neshamah. É onde se dá a percepção sensorial do mundo. Corresponde às Sephiroth dos mundos de Briah e Yetzirah.

- Neshamah: parte superior da alma ou super-alma; inconsciente superior. Responsável por separar o homem de todas as outras formas de vida. Está relacionada ao intelecto, e permite ao homem aproveitar e se beneficiar da pós-vida. É fornecida a todos os seres humanos no nascimento. Permite ao indivíduo a consciência da existência e onipresença de Deus. Pode ser subdividida em três partes:

1) Neshamah (pequena): não deve ser confundida com a grande Neshamah. Desta última, é a parte mais próxima e alcançável ao homem. Corresponde à intuição. Representa a percepção humana, a compreensão e o entendimento espiritual. Relaciona-se com o arquétipo da Mãe, com a Sophia grega (sabedoria) e ao componente psicológico anima (feminilidade inconsciente do homem). Lado direito do cérebro (intuitivo, abstrato, humanístico). Corresponde à Sephirah Binah.

2) Chiah: energia espiritual da vida, que origina a própria força da vida. É uma emanação de Yechidah. Corresponde à Vontade sagrada. Relaciona-se com o arquétipo do Pai e ao componente psicológico animus (masculinidade inconsciente da mulher). Permite ao homem a percepção da força divina. Lado esquerdo do cérebro (analítico, concreto, científico). Corresponde à Sephirah Chokmah.

3) Yechidah: corresponde ao Eu Superior ou Sagrado Anjo Guardião (SAG) ou Augoiedes (Luz da Manhã). A verdadeira natureza do ser, sua essência. O nível mais alto da alma pelo qual o homem pode atingir a união máxima com Deus. Corresponde à Sephirah Kether.

Estas partes da alma não são estáticas. Pelo contrário, estão em constante fluxo entre si, uma influenciando a outra. Um exemplo é o condicionamento de Ruach (mente consciente ou espírito) por Nephesh (instintos) quando a ação é impulsiva. O mesmo condicionamento pode surgir de Neshamah (inconsciente superior), como, por exemplo, através da superação de hábitos e vícios pela Vontade (Chiah).

Muito bom o tópico.Gostei.