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Umbanda e os Quatro Caminhos para Deus

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1Umbanda e os Quatro Caminhos para Deus Empty Umbanda e os Quatro Caminhos para Deus Sex Jun 13, 2014 9:40 pm

Lancelot

Lancelot
Admin

Texto de Fernando Sepe, retirado do material de apoio do Curso Arquétipos da Umbanda, oferecido pelo Instituto Cultural Aruanda

Podemos dizer, inspirados pela doutrina hindu, que quatro são os caminhos que levam a Deus: o conhecimento, o amor, a ação e o exercício espiritual. Creio que esse tipo de consideração é de extrema importância e possa ser utilizado como base para pensarmos o caminho umbandista. Mas, primeiramente, apresentemos resumidamente esses quatro caminhos:

O CAMINHO DO CONHECIMENTO (jnana): é o caminho do filósofo místico. Através do discernimento espiritual o Ser rompe a ilusão da identificação com o eu ilusório (ego) e identifica-se com sua natureza infinita, vasta e verdadeira. O Deus pessoal se torna impessoal e o praticante se reconhece Nele.
O CAMINHO DO AMOR (bhakti): é devocional. Devota-se a uma divindade pessoal, com tanto amor, que se perde o ego nessa imensa louvação. Ama-se Deus acima de tudo e todos os nossos outros amores são frutos desse amor primordial. Aqui, Deus é pessoal e o praticante não tem a intenção de se fundir nele, mas sim de viver nesse amor, o que é tradicionalmente representado da seguinte forma: “quero sentir o doce do açúcar, não ser o açúcar”.
O CAMINHO DA AÇÃO (karma): é aquele onde o ser atua no mundo, trabalha e realiza, mas desapega-se do fruto de seu trabalho. Basicamente, essa prática “mata o ego de fome”, utilizando-o para viver bem colocado no mundo, mas recusando todo fruto e benefício pessoal adquirido. É o caminho da caridade.
O último CAMINHO É O DO EXERCÍCIO ESPIRITUAL (raja): do empirismo místico. Nele, praticam-se exercícios espirituais tendo o objetivo de ir além da mente racional e do nosso eu pessoal, conhecendo, integrando e vivendo nosso eu transpessoal ou divino. O exercício espiritual pode ser bem exemplificado com a prática da yoga, o zazen, a prece contemplativa do cristianismo, a dança dervixe sufi etc. Esse caminho trespassa pelos outros três.

Bom, mas o que isso tem a ver com Umbanda? Tudo! Vejamos a palavra de seu fundador, o senhor caboclo das Sete Encruzilhadas: “Umbanda é amor e caridade”. Ora, o que aqui ele nos diz claramente é: a Umbanda é uma religião baseada em uma síntese do caminho da devoção (amor) com o caminho da caridade (ação).
Simples, muito simples. Mas, apesar dessas palavras serem muito conhecidas dentro da Umbanda, poucos realmente entendem com profundidade o que elas representam. Tentarei ser o mais claro possível a esse respeito.
Peguemos os grandes representantes da Umbanda, seus verdadeiros mestres. Falo, claro, dos caboclos e pretos-velhos. Toda prática espiritual deles é baseada nesses dois princípios: amor (devoção) e caridade (ação). Devoção ao Orixá a quem respondem, ao ponto de não trabalharem nunca com seus nomes pessoais (símbolo do ego), mas sim, com nomes simbólicos, pois se sentem e atuam unidos pelo amor do Orixá. Um guia dentro da Umbanda realiza o trabalho pelo Orixá, com a consciência do Orixá, no axé do Orixá. É um devoto como os médiuns também são.
Caridade, ou ação, é a palavra de ordem e por isso dizemos que o guia vem trabalhar. E nesse trabalho eles não recebem nada em troca, ou talvez até recebam, mas isso pouco ou nada importa. E quando os agradecemos, as palavras normalmente escutadas são: “agradece a Deus, filho; nêgo apenas cumpre sua obrigação”; ou ainda um simples sorriso sereno.
O que eu gostaria de chamar atenção é para o fato de que se os guias espirituais são mestres ou caminhantes espirituais, a maioria dos médiuns não o são!
Simplesmente, temos um déficit muito grande do entendimento real que se deve ter ao se dedicar à disciplina umbandista.
Em última análise, a Umbanda deveria ser um caminho para que seus praticantes se tornassem como os caboclos e pretos-velhos. Sim, a Umbanda é uma religião de transformação e essa transformação deve ser calcada no exemplo deles. Só então o caminho se abre para o médium, para que ele realmente entenda os fundamentos, princípios e objetivos mais importantes de sua prática.
Vejamos:
A caridade do trabalho mediúnico deve ser utilizada para “matar o ego de fome”. De grande auxílio é a indiferença ou a ingratidão daquelas pessoas as quais seus guias tanto ajudaram. Elas te ensinam a única coisa importante desse caminho: Trabalhar e agir, simplesmente. Sem a prensa da eficiência, sem o apego aos frutos. Os frutos são sempre dos Orixás.
Agir não apenas no terreiro, mas no mundo. Ética e moralidade são pressupostos básicos dentro de qualquer religião. Desapego também. Caridade é agir desinteressadamente no terreiro, na empresa onde você trabalha ou em qualquer lugar do mundo. É um estado de ser. Leve isso para onde você for. Não se esqueça: um caboclo ou preto-velho se comporta da mesma forma em seu terreiro, em sua casa, ou no terreiro do amigo, pois essa é a natureza dele, seu estado de espírito constante.
“O caminho da magia é como andar sobre uma navalha”. O velho axioma hermético alerta-nos sobre o perigo do ego. A magia não é um fim, apenas um meio. Além disso, o que o ego pode fazer por si? A prática magística verdadeira derivaria de um estado de consciência maior, onde o Todo-Orixá age, não o eu relativo. Na Umbanda, a magia deve ter como mestre e condutora a noção de ação desapegada, ou não ação.
Deve-se aprender a amar e louvar os Orixás de coração. A dor, as perdas e dificuldades podem ajudar a despertar esse amor. Porém, não faça do Orixá uma entidade superior com a qual você barganha favores e pedidos. Essa é apenas a fase inicial. Quando o amor verdadeiro surgir, o Orixá transforma-se em seu amante, em seu irmão, em seu melhor amigo, ou seu pai/mãe infinitamente bondoso. O médium em seus cantos, giras, firmezas, trabalhos e manifestações deve aprender a sentir a unidade no amor do Orixá. Sua natureza infinita, vasta, original. Orixá é Deus manifestado. Mergulhe, experimente, dance junto Deles. Quando isso acontece o médium finalmente entende o que é o Orixá.
Leve o bem amado por onde for. Não apenas no terreiro, pois se apaixonar pelos Orixás é se apaixonar pela Vida. Viva Neles, por Eles e com Eles. Perca-se e se ache Neles. Chore e sorria com Eles. Durma, acorde e se alimente Deles. Esse é o ideal de devoção. Um amor sutil como os lírios de Oxum, mas forte e determinado como os olhos de Ogum.
DOIS ALERTAS: Cuidado com o fanatismo e principalmente com o erro de confundir a realidade infinita com seus símbolos. Os rituais, oferendas, imagens etc. não são fins últimos. Eles são apenas trampolins para a realidade que não é tangível. Potencializadores do axé, mas não o próprio axé. Como diz a conhecida oração: “Deus, perdoa três pecados que se devem às minhas limitações humanas; Tu estás em toda parte, mas eu Te adoro aqui neste templo; Tu não tens forma, mas eu Te adoro nestas formas; Tu não precisas de louvor, mas eu te ofereço estas preces e louvores. Senhor, perdoa três pecados que se devem às minhas limitações humanas”.
Creio que essa rápida e superficial introdução ao assunto já dá aos umbandistas uma ideia do comprometimento real que a Umbanda espera de seu praticante. Literalmente, ela funciona como uma escola que tem como objetivo fazer com que os médiuns alcancem as qualidades morais e éticas dos caboclos e pretos-velhos, assim como sua lucidez e iluminação espiritual. Com isso, a compaixão surge e o caminho deixa de ser um fim, para ser o começo do trabalho incansável de auxílio a todos os seres sencientes desse ou de outros mundos e planos de manifestação. Porém, para tanto, deve-se refletir e praticar aquilo que é o objetivo da Umbanda – amor e caridade – ou: união mística amorosa com Deus através de suas manifestações Orixás e trabalho desapegado. É assim que um caboclo ou preto-velho nasce.
É por isso que um caboclo e preto-velho vive…

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