Boas tardes...
Uma vez que entrei de "de gaiato" como diz um conhecido meu, e nem estou vindo cá com regularidade, pensei bastante antes de me pronunciar, pois sei que o que quer que coloque aqui, provavelmente levará tempo até que eu própria venha e leia o que possam responder a respeito, mas lá vai...
Num primeiro ponto, aquilo que se considera dom divino tem de facto muitas interpretações. Por exemplo, eu formei-me em Medicina Chinesa e uma das áreas que são trabalhadas é a manipulação energética através do Qigong. Este é um aspecto prático, mas também teórico, pois envolve estudo. Sou também Reikiana, o que implica que aprendi a trabalhar com uma energia, que é o Reiki. Como exemplo básico posso dizer que nenhum destes dois aprendizados veio sem um preço bem elevado, pois há a parte financeira, como também a parte em que eu tiro do meu tempo para aperfeiçoar uma técnica da qual vão beneficiar-se outras pessoas, e não só eu.
No entanto, é comum aparecerem pessoas que acham que os tratamentos deveriam ser gratuitos, porque "a energia é divina". Com toda a certeza que é. Mas e o tempo da minha vida em que me dediquei a isto, muitas vezes deixando até de ter vida própria? Os milhares de euros que investi na minha formação? O sangue, suor e lágrimas de me custou terminar este curso, sabendo que de cada 100 alunos que entram, apenas 30% terminam o curso e ainda menos passam nos exames finais para exercer??
Ok, mas apesar de existirem formas de passe envolvidas, houve gastos e estudo envolvidos e além disso é a minha profissão, portanto não conta. Só contaria se por exemplo os meus guias estivessem comigo trabalhando, correcto? Pois... Nesse caso também não poderia cobrar, pois Graças a Deus, tenho sempre muito boa companhia quando estou a trabalhar na minha profissão e sei que os meus guias amparam os meus trabalhos. Será que a cobrança é legítima ou não? As opiniões diferem...
Mas vamos a algo mais concreto...
É de minha firme convicção que todos, TODOS nós somos médiuns. Podemos ou não ter uma mediunidade diferenciada e mais aflorada, mas todos temos meio de trabalhar a mediunidade e interceder junto ao Pai/Mãe pelos nossos irmãos.
Todos nós somos capazes de rezar, correcto?
No entanto eu não cobro quando rezo pelos outros. De facto esse dom todos temos, e o meu não é mais forte que os outros. Dedico-me no entanto ao incentivo que cada um reze também por si e não dependa de mim.
Vamos ver outra questão: se eu faço um curso, compro livros, estudo a mediunidade para me aprimorar... Será que um certo modo não estou a pagar? Será que tudo o que eu recebo é assim tão de graça?
Eu coloco assim: as melhores coisas da vida são de graça, mas nada vem de graça.
Muitas vezes impôr uma valor a um serviço faz com que as pessoas lhe dêem o devido valor (qualquer serviço). Não é pouco comum vermos pessoas chorando que não têm 20 euros para uma consulta para o filho doente, mas compram um carro zero!!! Então eu também coloco: há pessoas que precisam sim de aprender a valorizar e a estabelecer prioridades na vida!
Quantas vezes encontramos trabalhos espirituais que estão com a corda no pescoço e lutando para não fechar portas (nalguns casos sobrecarregando os médiuns da casa com os custos da mesma ao ponto de estes terem de se afastar pois não conseguem aguentar os encargos), enquanto o assistido entra e sai e não deixa um tostão para ajudar, mesmo que possa? Nesses casos quem sai ajudado se a casa fecha? Os médiuns deixam de ter espaço para trabalho e amparo no seu desenvolvimento, os consulentes perdem um local que os podia auxiliar...
Faço muita coisa de graça. E já recebi ralhetes por isso, pois quem tudo dá de graça acaba se desvalorizando. Isto no entanto, falando do meu trabalho e não de trabalho espiritual.
Ainda que se formos bem a ver, todo o trabalho é espiritual e a espiritualidade encontra-se em tudo nas nossas vidas.
A meu ver, é bom que haja todo tipo de trabalhos, pagos e não pagos (claro, com bom senso no tipo de cobrança e nos valores pedidos) para que as pessoas possam por afinidade encontrar os aprendizados que precisam. E nalguns casos, as pessoas precisam de facto de valorizar pelo pagamento, como um aprendizado.
Não creio que é a cobrança, feita com bom senso, que vai contra qualquer princípio. E sinto (e neste ponto vou um pouco de encontro ao que o Sandoval colocou) que as pessoas devem saber ou sentir quando, e se, devem prescindir de um pagamento ou pelo contrário cobrar um valor.
Além disso, sendo bem sincera, conheço casas que trabalham e cobram pelos seus trabalhos mas nem por isso a receita vai para os médiuns ou para os dirigentes, mas para a manutenção da casa.
Não é fácil ter mecenas que mantenham uma casa aberta com contribuições, e se isso acontece é frequente quando há desentendimentos essa renda desaparecer e as casa fecharem. Não é melhor a contribuição de todos, ainda que caiba pouco a cada um, para se manter um local aberto e em boa função? Eu creio que sim.
Creio que fica muito bonito para o médium que trabalha na sua casa, sozinho, nas horas vagas da sua profissão, poder fazer um trabalho caritativo, mas quando há uma casa para sustentar não é tão fácil. E mesmo assim, com frequência essas pessoas acabam tendo tantos pedidos que acabam por muitas vezes prescindir de sua profissão para atender a mais pessoas e muitas acabam vivendo muito mal, pois acabam por não conseguir manter a sua subsistência se isso acontece e não têm a devida gratidão de quem ajudam. Então aí, mais uma vez, a cobrança do tempo disponibilizado volta a ser uma questão a considerar...
Numa nota final em relação ao que de graça recebemos...
Não acredito que se receba algo de graça. Acredito que se receba por Karma, acredito que se receba como oportunidade ou até como missão, mas nem por isso a consequência de ter recebido vai sair de graça.
É cobrado a um bom médium que se disponha a estudar a mediunidade, o que muitas vezes implica investir. E investir nem sempre é só uma questão financeira, mas de tempo. E também isso sai caro. Quando se prescinde de horas de trabalho remunerado para fazer a caridade ou desenvolver a mediunidade, há um preço. Quando se investe em livros, em cursos, etc... Posto isto, nem por isso a decisão final de uma pessoa passará por cobrar, receber doações ou não receber nada. Cabe a cada um. Mas nem por isso fica de graça. Nenhuma decisão nossa vem sem preço.
Quantos de nós ao assumir a nossa mediunidade perdemos companheiros, vimos afastar-se família, vimos relacionamentos desfeitos? Isso é um preço!
Quantos de nós tivemos de abdicar do conforto de realidades que conhecíamos para entrar noutras completamente diferentes? "Isso é evolução", dirão uns. Claro que sim! Mas quem disse que evoluir vinha sem um preço? As maiores bênçãos da vida não são "dádivas" como muitas vezes rotulamos, mas o resultado de trabalho árduo. A nossa evolução é talvez a nossa maior dádiva que recebemos como encarnados, mas ela sempre, SEMPRE vem com um preço...
Mas isto já é um raciocínio de rodapé...