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A dinastia de Jesus

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1A dinastia de Jesus Empty A dinastia de Jesus Dom Nov 18, 2012 6:11 pm

Lancelot

Lancelot
Admin


4) Se Jesus era realmente casado com Madalena, este casamento poderia ter tido algum objectivo específico?
Por outras palavras, poderia ter sido mais do que um casamento convencional?
Poderia ser uma aliança dinástica de algum tipo, com implicações e repercussões políticas?
Em suma, poderia a linhagem resultante desse casamento merecer completamente a designação de "sangue real"?

O Evangelho de Mateus declara explicitamente que Jesus era de sangue real - um rei genuíno, descendente directo de Salomão e David. Se isto for verdade, então ele teria uma pretensão legítima ao trono de uma Palestina unida - talvez mesmo a única pretensão legítima. E a inscrição afixada na cruz teria sido mais do que mero escárnio sádico, pois Jesus seria realmente "Rei dos Judeus". A sua posição, em muitos aspectos, seria análoga, por exemplo, à de Carlos Eduardo Stuart em 1745. Assim, teria gerado a oposição que gerou precisamente em virtude do seu papel - o papel de um padre-rei que poderia possivelmente unificar o seu país e o povo judeu, colocando assim uma séria ameaça a Herodes e a Roma.

Certos estudiosos bíblicos modernos têm argumentado que o famoso "Massacre dos Inocentes" de Herodes nunca ocorreu na realidade. Mesmo que tenha ocorrido, não teve provavelmente as proporções aterradoras e aparatosas que os Evangelhos e a tradição subsequente lhe atribuem. E contudo, a mera perpetuação da história parece atestar qualquer coisa - um verdadeiro alarme por parte de Herodes, alguma ansiedade muito real quanto à possibilidade de ser deposto. É verdade que Herodes era um governante muito inseguro, odiado pelos seus súbditos escravizados e mantido no poder apenas graças aos Romanos. Mas, por mais precária que a sua posição fosse, não podia, em termos realistas, ter sido seriamente ameaçada por rumores de um salvador místico ou espiritual - do tipo que, à época, abundava na Terra Santa. Se Herodes estava de facto preocupado, só pode ter sido devido a uma ameaça política muito real e concreta - a ameaça colocada por um homem que detinha uma pretensão ao trono mais legítima do que a sua, e que podia reunir um substancial apoio popular. O "Massacre dos Inocentes" pode nunca ter ocorrido, mas as tradições relacionadas com ele reflectem alguma preocupação da parte de Herodes - quanto a uma pretensão rival e, muito possivelmente, quanto a alguma acção destinada a frustrá-la ou impossibilitá-la. Esta pretensão só podia ser de natureza política. E tinha de justificar ser levada a sério.

Sugerir que Jesus gozava de tal pretensão é, claro, desafiar a imagem popular do "pobre carpinteiro de Nazaré". Mas há razões persuasivas para o fazermos. Em primeiro lugar, não é completamente certo que Jesus fosse de Nazaré. "Jesus de Nazaré" é, na verdade, uma corrupção ou um erro de tradução de "Jesus o Nazorita" ou "Jesus o Nazoreano", ou talvez "Jesus de Gennesareth".

Em segundo lugar, há dúvidas consideráveis sobre se a cidade de Nazaré existia de facto no tempo de Jesus. Não surge em qualquer mapa, registo ou documento romano. Não é mencionada no Talmude. Não é mencionada, muito menos em associação com Jesus, em qualquer dos escritos de São Paulo - que foram, afinal de contas, compostos antes dos Evangelhos. E Flavius Josephus - o mais destacado cronista do periodo, que comandou tropas na Galileia e listou todas as cidades da província - também não faz qualquer referência a Nazaré. Parece pois, em suma, que Nazaré só surgiu como cidade algum tempo depois da revolta de 68-74 d. C, e que o nome de Jesus ficou associado com ela em virtude da confusão semântica - acidental ou deliberada - que caracteriza tanto do Novo Testamento.

Quer Jesus seja "de Nazaré" ou não, não existe nenhuma indicação de que alguma vez tenha sido um "pobre carpinteiro".285 Não é retratado como tal por nenhum dos Evangelhos. Na verdade, estes sugerem mesmo o contrário. Por exemplo, Jesus parece ter sido um homem culto. Parece ter sido instruído para a posição de rabi, e ter acompanhado tanto com os pobres como com pessoas ricas e influentes - José de Arimateia, por exemplo, e Nicodemos. E o casamento de Canan parece reforçar ainda mais o estatuto e posição social de Jesus.

Este casamento não parece ter sido um festival modesto e humilde conduzido por "pessoas comuns". Pelo contrário, tem todas as marcas de uma união aristocrática extravagante, um evento da "alta sociedade", ao qual compareceram pelo menos várias centenas de convidados. Existe uma grande quantidade de servos, por exemplo - que se apressam a seguir as ordens de Maria e de Jesus. Existe um "mestre-sala", ou "mestre de cerimónias" - que, no contexto, seria uma espécie de mordomo chefe, ou talvez ele próprio também um aristocrata. Existe claramente uma quantidade verdadeiramente enorme de vinho. Quando Jesus "transforma" a água em vinho, produz, de acordo com a "Bíblia da Boa Nova", nada menos do que seiscentos litros, mais de oitocentas garrafas! E isto para além do que já tinha sido consumido.

Pesando todas estas coisas, o casamento de Canan parece ter sido uma cerimónia sumptuosa da nobreza ou da aristocracia. Mesmo que o casamento não fosse de Jesus, a sua presença, bem como a da sua mãe, sugerem que eles eram membros dessa mesma classe. Só isso explicaria a obediência dos servos às suas ordens.
Se Jesus era um aristocrata, e se era casado com Madalena, então é provável que ela tivesse um estatuto social comparável. E, na verdade, é o que parece. Como já vimos, Madalena contava entre as suas amigas com a mulher de um importante oficial da corte de Herodes. Mas pode ter sido ainda mais importante.

Como nós tínhamos descoberto, através de referências nos "documentos Prieuré", Jerusalém - a Cidade Santa e capital da Judeia - fora originalmente propriedade da Tribo de Benjamim. Posteriormente, os benjamitas foram dizimados na sua guerra com as outras tribos de Israel, e muitos deles partiram para o exílio - embora, como afirmam os "documentos Prieuré", "certos permaneceram". Um dos descendentes dos que ficaram era São Paulo, que declara explicitamente ser benjamita (Romanos 11:1).

Apesar do seu conflito com as outras tribos de Israel, a Tribo de Benjamim parece ter gozado de algum estatuto especial. Entre outras coisas, deu a Israel o seu primeiro rei - Saul, ungido pelo profeta Samuel - e a sua primeira casa real. Mas Saul foi eventualmente deposto por David, da Tribo de Judá. E David não se limitou a retirar aos benjamitas a sua pretensão ao trono. Ao estabelecer a sua capital em Jerusalém, privou-os também da sua herança legítima.

De acordo com todos os relatos do Novo Testamento, Jesus era da linhagem de David, e portanto também membro da Tribo de Judá. Aos olhos dos benjamitas isto devia fazer dele, pelo menos em certo sentido, um usurpador. Contudo, estas eventuais objecções poderiam ser superadas se ele fosse casado com uma mulher benjamita. Esse casamento constituiria uma importante aliança dinástica, repleta de relevância política. Não só daria a Israel um poderoso padre-rei, como também desempenharia a função simbólica de devolver Jerusalém aos seus donos originais e legítimos. Assim, serviria para encorajar a unidade e o apoio popular, e para consolidar qualquer pretensão ao trono que Jesus pudesse ter tido.
No Novo Testamento não existem indicações da afiliação tribal de Madalena. Contudo, em lendas subsequentes, diz-se que ela era de linhagem real. E existem outras tradições que afirmam explicitamente que ela era da Tribo de Benjamim.
Nesta altura, começam a ser discerníveis os contornos de um cenário histórico coerente. E, tanto quanto conseguíamos ver, um cenário que fazia muito sentido a nível político. Jesus seria um padre-rei da linhagem de David, que detinha uma pretensão legítima ao trono.

Teria consolidado a sua posição através de um casamento dinástico simbolicamente importante. Ficaria assim preparado para unificar o país, mobilizar o povo atrás de si, expulsar os opressores, depor o fantoche abjecto dos Romanos e restaurar a glória da monarquia, tal como ela era sob Salomão. Um tal homem seria realmente "Rei dos Judeus".

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