A expressão Dons Espirituais, como a expressão Espírito Santo, não aparece nos textos bíblicos originais. ....... “Os termos da Vulgata Latina, spiritum bonum, correspondem exatamente aos dos originais gregos. A Vulgata não fala absolutamente em Espírito e Espírito Santo”. Isso, no tocante ao Novo Testamento, pois no Velho só se fala em Espírito e Espírito de Deus. Quanto aos Dons Espirituais, a situação é a mesma. Essa expressão aparece apenas nos textos paulinos, com a palavra grega charismata, que significa literalmente mediunidade, ou seja, a graça de ser intermediário entre os Espíritos e os Homens.
A mediunidade era usada entre os judeus e entre os cristãos primitivo.......... Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os Espíritos podiam ser bons ou maus, muito evoluídos ou inferiores e atrasados”. Isto explica as advertências apostólicas, pois nas assembleias cristas manifestavam-se também os maus Espíritos, amaldiçoando o Cristo para defenderem o Judaísmo ortodoxo ou mesmo para defenderem as religiões politeístas, que também usavam a mediunidade.
Vemos assim como são inúteis os ataques ao Espiritismo em nome da Bíblia, que é um livro mediúnico. E como os espiritistas e o Espiritismo nada têm a temer da Bíblia. E preciso apenas mostrar a verdade sobre a Bíblia, separar o que há nela de humano e divino, não aceitá-la de olhos fechados, dogmaticamente, como “a palavra de Deus”, o que é simples absurdo proveniente de épocas de fanatismo. A Bíblia é muito valiosa para os espiritistas estudiosos, porque é o maior e mais vigoroso testemunho da verdade espírita na Antiguidade.......
Entre as curiosas contradições dos que aceitam a Bíblia como a palavra de Deus, podemos citar o caso das alterações do texto, com a finalidade de adaptá-lo a interesses sectários. Essas alterações vêm de longe e constituem um dos campos mais interessantes dos estudos bíblicos. Kardec menciona, no capítulo quarto de O Evangelho Segundo o Espiritismo, uma referência livre de Jó à reencarnação, que aparece modificada na tradução católica de Sacy (francesa), na tradução protestante de Osterwald e na tradução da Igreja Ortodoxa Grega. Nesta última, que é a mais próxima do texto original, o princípio da reencarnação está evidente.
Outra citação de Kardec, no mesmo capítulo, é de Isaías (Cap. 26, vers. 19) em que a expressão bíblica é bastante clara: “os teus mortos viverão; os meus, a quem deram vida, ressuscitarão”. Essa passagem, como outras, é adaptada nas traduções, para esconder a crença dos profetas na reencarnação. O texto de Jó (Cap. 15, vers. 10-14), aparece desta maneira na versão grega ortodoxa: “Quando o homem está morto, vive sempre; findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente”.
Temos aí uma síntese admirável do princípio da reencarnação, de pleno acordo com o Espiritismo: morto o homem, não fica enterrado, mas ressuscita no corpo espiritual, como ensina o apóstolo Paulo. Ressuscitado, espera no mundo espiritual o momento de voltar à vida terrena, a fim de prosseguir no seu desenvolvimento. Todas as alterações, como se vê, caem fragorosamente diante dos estudos críticos da Bíblia, que revelam o verdadeiro sentido dos textos desfigurantes. E cada alteração corrigida mostra que os textos originais confirmam os princípios do Espiritismo.....
Mas as alterações não se deram apenas no passado. Dão-se agora mesmo, aos nossos olhos. Examine o leitor a última edição da Bíblia feita pela Sociedade Bíblica do Brasil e impressa em São Paulo, nas oficinas da “Impress”. A tradução portuguesa é a clássica, de João Ferreira de Almeida, mas “revista e atualizada no Brasil”. A revisão implicou a mudança de palavras, às vezes com a finalidade de enquadrar o Espiritismo nas condenações bíblicas às práticas da antiga magia. É assim que, em l Samuel, como título do Cap. 28, encontramos o seguinte: “Saul consulta a médium de En-Dor”. E também no texto a palavra espírita “-médium” foi incluída. Mas no Cap. 18 de Deuteronômio foram conservadas as expressões antigas: “adivinhos e feiticeiros”. Que diria disso o bom padre Almeida? Como se vê, a palavra de Deus é moldada pelos homens, conforme as suas conveniências.......
Mas não pense o leitor que são os espíritas que afirmam a origem mediúnica da Bíblia. Quem afirmou foi o apóstolo Paulo, quando declarou peremptoriamente: “Vós recebestes a lei por mistérios dos anjos”, isto em Atos, 7:53, explicando ainda em Hebreus 2:2: “Porque a lei foi anunciada pêlos anjos”, e confirmando na mesma epístola, l: 14: ”Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério”. Antes, em Hebreus, l:7, Paulo, depois de advertir que Deus havia falado de muitas maneiras aos profetas, acrescenta: “Sobre os anjos, diz: o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros chamas de fogo”.
Está claro que os anjos são espíritos, reveladores das leis de Deus aos homens, como afirma o Espiritismo. Paulo vai mais longe, afirmando em Atos 7:30-31, que Deus falou a Moisés através de um anjo na sarça-ardente. Veja-se o que ficou dito acima: os anjos são espíritos, ministros de Deus, que o faz chama do fogo, nas aparições mediúnicas. O reverendo Haraldur Nielson, em seu livro O Espiritismo e a Igreja, ele que foi o tradutor da Bíblia para o islandês, a serviço da Sociedade Bíblica Inglesa, afirma que o Cristo é muitas vezes chamado no Evangelho, no original grego, de “pneuma”, depois da ressurreição. E “pneuma” quer dizer espírito. Da mesma maneira, lembra que Paulo, em Hebreus, 12:9, refere-se a Deus como “Deus dos Espíritos”. Lembra ainda que as manifestações dos Espíritos, nas sessões que realizou com o bispo Hallgrimur Svenson em Reikjavik, eram na forma de línguas de fogo. Essas manifestações confirmavam que o anjo da sarça-ardente e os fenômenos do Pentecostes foram mediúnicos.
Mateus 17:1,3: “Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte..... Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz...... Nisto, apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele.” - Nesta passagem temos um exemplo de que comunicar com os mortos, ou melhor, com os vivos desencarnados é possível, não só é possível como será perfeitamente normal e sem nada de errado aos olhos de Deus, pois caso contrário Jesus não o teria feito. Muitos que aceitam a sobrevivência do espírito (alma) após a morte, não acham possível a comunicação com esses mesmos espíritos, outros existem que acham possível uma comunicação, mas têm a opinião que Deus condena essa prática e então quem aparece nas comunicações é o Diabo a enganar e desencaminhar quem o faz.
O que falta aos acusadores do Espiritismo é estudo. Se pusessem o seu dogmatismo de lado e estudassem um pouco, haveriam de compreender essas coisas. A Bíblia foi inspirada pêlos Espíritos, como mensageiros de Deus, no tocante aos seus livros proféticos, que chamamos de mediúnicos. Os livros históricos e de legislação civil receberam também a colaboração dos Espíritos. A Bíblia, pois, é um livro mediúnico que não pode condenar o Espiritismo, pois estaria se condenando a si mesma.............
Eu finalizo este capítulo, que considero um dos mais polêmicos na nossa humanidade citando uma passagem bíblica onde fica evidenciado a religiosidade universal de Jesus o Cristo Mago :
Numa ocasião, o apóstolo João disse a Jesus: "Mestre, vimos certo homem expulsar demônios (espíritos) pelo uso de teu nome, e tentamos impedi-lo, porque não nos acompanhava."...... Este homem, evidentemente, era bem sucedido em expulsar demônios (espíritos inferiores), porque Jesus disse: "Ninguém há que faça uma obra poderosa à base do meu nome que logo possa injuriar-me."........ Portanto, Jesus ordenou que não tentassem impedi-lo, "pois quem não é contra nós, é por nós". (Mc. 9:38-40).............